quarta-feira, 29 de abril de 2009

Fundamentos Filosóficos e Epistemológicos da Psicologia

PSICOLOGIA FILOSÓFICA - PERÍODO ANTROPOCÊNTRICO
Exemplificando através do filme: “O NOME DA ROSA”

O Período Antropocêntrico se deu entre os séculos IV aC e IV dC. A preocupação dos pensadores nesta época era conhecer o homem, seus processos mentais e o funcionamento da sua integração social. Os principais questionamentos desta época foram “Como conhecemos” e “Como podemos conhecer”. Questionamentos estes, que foram inicialmente de ordem epistemológica e posteriormente se tornaram de ordem psicológica.

Os Sofistas eram professores ambulantes que percorriam as cidades ensinando as ciências e as artes aos jovens, e foram os primeiros pensadores a se preocuparem com estas questões chaves da época. Queriam substituir a educação tradicional que visava formar guerreiros e atletas, por uma educação que focava na formação do cidadão. Acreditavam ser impossível se estar seguro de que realmente se conhecia algo, pois não havia onde se buscar os critérios para se definir algo como bom ou mau, falso ou verdadeiro. Os principais pensadores Sofistas são Protágoras e Górgias.

Dentre os principais filósofos clássicos, destaca-se Sócrates de Atena (436 a 336 aC), que foi um dos mais conhecidos filósofos gregos. Muitas vezes confundido como sofista, também se dedicava à educação da juventude. Acreditava que o conhecimento que provém do meio que nos cerca é imperfeito, pois é percebido através dos sentidos e, portanto, sujeito a ilusões. Segundo ele, o único conhecimento real que poderia ser obtido era o do “próprio eu” e que esta busca levaria a uma vida virtuosa. Acreditava que o objetivo da filosofia era a educação moral e ética do homem. Sua pedagogia não era baseada na imposição das idéias, pois buscava descobrir a verdadeira essência das coisas através do diálogo crítico (dialética). Para ele, admitir a própria ignorância era o ponto de partida para se adquirir o conhecimento. “Só sei que nada sei”

Platão de Atenas (427 a 347 aC) foi aluno e intérprete de Sócrates. Também concebia o conhecimento advindo dos sentidos como imperfeito. Acreditava na existência de um mundo chamado de “mundo das idéias” que era visto como perfeito e imutável (teoria da reminiscência), que existia fora do homem e independente dele. Acreditava também que estas idéias advindas deste mundo externo eram inatas ao homem (nativismo) e que a “alma” antes de encarnar habitava este mundo, e que ao encarnar no corpo esquecia-se destas idéias. O conhecimento advinha então, da lembrança destas idéias adquirida através das experiências. Concebia a existência de um mundo imaterial inerente ao homem, denominado de mente. Concebia o homem como um ser dualista composto de mente X corpo. Visão esta, considerada raiz mestra da história da psicologia. Relacionava à mente conteúdos considerados bons, belos e superiores, enquanto que o corpo era considerado inferior e ruim. A alma seria imortal, mas quando ligada ao corpo, possuía três faculdades: uma sensual, ligada às necessidades corpóreas; outra ligada aos afetos, impulsos e emoções, e a terceira, a racional, que inclui a inteligência e a vontade livre. Como conseqüência deste princípio, a sociedade ideal teria três categorias de homem, determinadas pela educação e expressão das aptidões. São elas: escravos ou servos (responsáveis pelo sustento do corpo: industriais, comerciantes e agricultores), soldados (homens da coragem e da moção) e por último os intelectuais (homens das idéias e da razão). Dentro desta visão, os intelectuais “Homo Sapiens” eram considerados superiores aos soldados e aos escravos “Homo Faber”, visão esta, considerada e utilizada até hoje. A partir desta visão dualista, surgiram duas correntes filosóficas e pedagógicas: a da essência (sua função é auxiliar o homem a ultrapassar-se) e a da existência (seu objetivo é a busca da felicidade).

Fica evidente no filme “O nome da Rosa” a concepção dualista mente X corpo, onde as questões relacionadas ao corpo eram consideradas impuras e as relacionadas à mente, consideradas superiores. Observa-se também a existência das categorias de homem propostas por Platão (escravos, soldados e intelectuais), onde os intelectuais da época eram os homens ligados à igreja (detentores do conhecimento) que tentavam a todo custo impedir que o conhecimento chegasse aos demais.

Aristóteles de Estagira (384 a 322 aC) era discípulo e opositor de Platão e não acreditava na existência do mundo das idéias. Via a criança recém-nascida como uma “tabula rasa”, sem nenhuma bagagem de conhecimento. Acreditava que o conhecimento era adquirido pelas experiências, através dos sentidos. Concebia as sensações como o elemento mais simples e primitivo do conhecimento (empirismo). Ultrapassou o dualismo platônico, pois acreditava que mente e corpo eram indivisíveis e inseparáveis, sendo impossível dizer onde terminava um e iniciava o outro (filosofia da essência). Esta concepção aristotélica constitui um dos fundamentos da Pedagogia da Essência. Aristóteles foi o primeiro homem a escrever tratados sistemáticos de psicologia. Escreveu sobre os sentidos e as sensações, a memória, o sono e a insônia, a geriatria, a extensão e a brevidade da vida, a juventude e a velhice, a vida e a morte e a respiração. Sendo que deu especial atenção à memória, distinguindo vários princípios de associação: associação por igualdade, contraste, contiguidade temporal e espacial. Com isto, conseguiu esclarecer um dos questionamentos principais do período: “Como se adquire conhecimento”.

No final deste período desenvolveram-se duas correntes filosóficas exatamente opostas, o Estoicismo, que defendia que a virtude deveria ser cultivada como valor intrínseco, submetendo o desejo à razão, seguindo a linha da Pedagogia da Essência; e o Epicurismo, que valorizava a felicidade e o prazer, seguindo a linha da Pedagogia da Existência.

Este período foi de extrema importância para a história da psicologia, pois nele surgiram princípios básicos para o seu desenvolvimento, como o nativismo X empirismo, o dualismo corpo X mente, o associacionismo e as pedagogias da essência e da existência.

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